Não te amo com o coração, na verdade nunca amei ninguém com o
coração, não é exclusividade sua. Da mãe a você, passando por todos os parentes
no meio disso, você não é a única a ser amada apenas com a cabeça. E com o
estômago também, órgão muito mais sincero sobre amor. O frio dá na barriga, a
gastrite é da ansiedade de saber do sim ou do não, a falta de fome é quando
você vai embora e o vômito vem quando a notícia não é nada boa, assim como
encho a barriga quando estou feliz e satisfeito ao seu lado.
Amo com a cabeça sim, amo com o intelecto, com o juízo, deixar
o coração decidir é um erro, pois o coração é cego, e burro. Amo, a todo mundo
que amo de verdade, com a cabeça, pois é uma escolha, não muito lógica, mas
certeira e não prejudicial para nenhuma das partes. Pois amor pressupõe cuidado
e atenção mútua, carinho e respeito, portanto o coração não pode ser capaz
desse tipo de coisa. O coração é levado por paixões, fogos de artifícios,
imagens sedutoras e toda sorte de propaganda é capaz de iludir o pobre coitado.
A cabeça não, ela é capaz de passar por cima da ilusão, consegue saber onde o
mágico faz o truque e até perceber quando o diabo quer sua alma.
Então amo com a cabeça, com todos os bilhões de neurônios do
meu corpo, com a força do meu cérebro, com a potência de minha inteligência e
com a profundidade de toda minha literatura. Amo com toda a capacidade
cognitiva que possuo, pois só assim posso apreender o tamanho da beleza que é
amar. E não é exclusividade sua eu amar assim, amo da mãe a você, passando por
todos os parentes que amo, mas apenas você, a mãe, o pai, o irmão e alguns
poucos contados nos dendritos me deixam com o estômago feliz.