Esta seção de hoje será dedicada a livros altamente
recomendáveis para a formação de qualquer ser humano, todas as quintas trarei
para vocês comentários sobre algum livro lido por mim e sobre as impressões que
tive dele.
O livro de estreia desta seção é Avalovara de Osman
Lins, um escritor Pernambucano com grande conhecimento da língua e responsável
por um manejo impressionante das palavras, tanto é que Avalovara foi uma
palavra criada por ele para representar a ideia transmitida na obra, uma ideia
de circularidade e de ficção pura da realidade. Lendo a obra isso fica bem
claro. O básico da história é a vida de Abel, a forma como ele se envolve em
três romances durante três diferentes momentos de sua vida e as consequências
em decorrência desses amores, porém não é apenas isso, o livro é completamente
circular, ele vai afunilando como em uma espiral guiando você pelos meandros
desses amores, entrecruzando as histórias de maneira não linear. Isso é o mais
legal de ler esse danado desse livro o fio condutor é um carretel enleado que
você deve achar as pontas e dar o contorno mais plausível possível, se é que é
possível isso.
Separei para vocês trechos do livro que dão mais ou
menos a ideia da abordagem dada á realidade presente no livro:
A primeira passagem é referente à imagem no topo
desta matéria. Você lê nela: SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS, é uma figura de
linguagem que você de lá pra cá e de cá para lá as palavras formadas são as
mesmas, o grande esquema é na tradução que são duas: “O lavrador mantém
cuidadosamente a charrua nos sulcos” ou “O Lavrador sustém cuidadosamente o
mundo em sua órbita”, fica com vocês decidir qual a melhor tradução em relação
ao livro.
Frequentemente você irá perceber referência ao tempo
nas passagens do livro e como Osman Lins encarava esse assunto. Para que fique
mais claro trago a passagem: “Os relógios, escreve J. H., têm estreita relação
com o mundo e o que representam ultrapassa largamente a sua utilidade” ou “Pode
ser que tudo existe simultaneamente e que tenhamos do tempo não uma ideia
correta ou verdadeira, e sim uma que preserve nossa integridade.” Essas
passagens do tempo colocam nosso juízo para trabalhar sobre o tempo, como o
demarcamos, como o sentimos, o que é verdade dentro, se é que já verdade no
tempo. E falando sobre verdade o livro nos coloca contra a parede afirmando em
certos momentos: “A verdade tem sempre um fundo falso onde se esconde uma
palavra ou evento essencial”. Dessa forma as dúvidas vão surgindo, as verdade
ficando frágeis e a realidade mero jogo de palavras, acabamos nos sentindo de
frente a um espelho e nos sentindo “como se estivesse no espelho, mas sem saber
em qual dos lados está meu reflexo”.
Nessa brincadeira com as palavras Osman acaba por
nos trazer ao mundo onde as palavras é que são o grande poder, nelas que está
escondido o segredo do mundo como ele afirma em outra passagem: “A palavra
sagra os reis, exorciza os possessos, efetiva os encantamentos. Capaz de muitos
usos, também é a bala dos desarmados e o bicho que descobre as carcaças podres.”
Por isso nossas leis são escritas, o mais importante é registrado em contrato,
cartório, autenticado, fotocopiado e arquivado. A força das palavras pode até
mudar o amor, derrubar os sentimentos e mudar tudo. Osman também trata do amor
como esse ser maleável, como esse ser que pode ser duvidado, inquirido,
esmiuçado para saber se existe e é verdade. Mas que verdade? Por que se ama? “Ama-se
o que em que se ama? O que, em quem amamos, faz com que o amor se manifeste? O ser
(visível) ou sua história, que ouvimos?”
É um bom livro para quem gosta de palavras e
tenta medir sua força