quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Palavras e verdades



Esta seção de hoje será dedicada a livros altamente recomendáveis para a formação de qualquer ser humano, todas as quintas trarei para vocês comentários sobre algum livro lido por mim e sobre as impressões que tive dele.
O livro de estreia desta seção é Avalovara de Osman Lins, um escritor Pernambucano com grande conhecimento da língua e responsável por um manejo impressionante das palavras, tanto é que Avalovara foi uma palavra criada por ele para representar a ideia transmitida na obra, uma ideia de circularidade e de ficção pura da realidade. Lendo a obra isso fica bem claro. O básico da história é a vida de Abel, a forma como ele se envolve em três romances durante três diferentes momentos de sua vida e as consequências em decorrência desses amores, porém não é apenas isso, o livro é completamente circular, ele vai afunilando como em uma espiral guiando você pelos meandros desses amores, entrecruzando as histórias de maneira não linear. Isso é o mais legal de ler esse danado desse livro o fio condutor é um carretel enleado que você deve achar as pontas e dar o contorno mais plausível possível, se é que é possível isso.
Separei para vocês trechos do livro que dão mais ou menos a ideia da abordagem dada á realidade presente no livro:
A primeira passagem é referente à imagem no topo desta matéria. Você lê nela: SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS, é uma figura de linguagem que você de lá pra cá e de cá para lá as palavras formadas são as mesmas, o grande esquema é na tradução que são duas: “O lavrador mantém cuidadosamente a charrua nos sulcos” ou “O Lavrador sustém cuidadosamente o mundo em sua órbita”, fica com vocês decidir qual a melhor tradução em relação ao livro.
Frequentemente você irá perceber referência ao tempo nas passagens do livro e como Osman Lins encarava esse assunto. Para que fique mais claro trago a passagem: “Os relógios, escreve J. H., têm estreita relação com o mundo e o que representam ultrapassa largamente a sua utilidade” ou “Pode ser que tudo existe simultaneamente e que tenhamos do tempo não uma ideia correta ou verdadeira, e sim uma que preserve nossa integridade.” Essas passagens do tempo colocam nosso juízo para trabalhar sobre o tempo, como o demarcamos, como o sentimos, o que é verdade dentro, se é que já verdade no tempo. E falando sobre verdade o livro nos coloca contra a parede afirmando em certos momentos: “A verdade tem sempre um fundo falso onde se esconde uma palavra ou evento essencial”. Dessa forma as dúvidas vão surgindo, as verdade ficando frágeis e a realidade mero jogo de palavras, acabamos nos sentindo de frente a um espelho e nos sentindo “como se estivesse no espelho, mas sem saber em qual dos lados está meu reflexo”.
Nessa brincadeira com as palavras Osman acaba por nos trazer ao mundo onde as palavras é que são o grande poder, nelas que está escondido o segredo do mundo como ele afirma em outra passagem: “A palavra sagra os reis, exorciza os possessos, efetiva os encantamentos. Capaz de muitos usos, também é a bala dos desarmados e o bicho que descobre as carcaças podres.” Por isso nossas leis são escritas, o mais importante é registrado em contrato, cartório, autenticado, fotocopiado e arquivado. A força das palavras pode até mudar o amor, derrubar os sentimentos e mudar tudo. Osman também trata do amor como esse ser maleável, como esse ser que pode ser duvidado, inquirido, esmiuçado para saber se existe e é verdade. Mas que verdade? Por que se ama? “Ama-se o que em que se ama? O que, em quem amamos, faz com que o amor se manifeste? O ser (visível) ou sua história, que ouvimos?”
É um bom livro para quem gosta de palavras e tenta medir sua força

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Literatura e Mercado


É muito fácil meter o pau no mercado quando você está fora dele, quando você não é a parte alimentada pelo mecanismo de propaganda e geração de renda que o mercado editorial criou. É simples demais até e sem sentido. Criticar obras como Crepúsculo ou 50 tons de cinza e adjacências é como chutar cachorro morto. Difícil deve ser escolher ser uma dessas pessoas criticadas que ganham dinheiro com quase literatura. Como deve ser estar desconfortavelmente vendendo histórias que narram a “saga do herói” ou o estilo Karatê Kid de viver com nada de novo no front do mercado para colocar nas cabeças dos jovens leitores ou preguiçosos pensantes?
Agora que parei a parte de chutar cachorro morto digo o que realmente importa: é fundamental que exista esse tipo de literatura de fácil acesso, esses livros de fácil assimilação, pois não formaríamos público leitor apenas com aquele monte de livros cabeça que falam da miséria humana e de temas “universais”, nem teríamos literatura. Nem me venha com esse argumento que vivemos em um tempo que a maioria da população tem preguiça para ler. A maioria da população sempre teve preguiça para ler, primeiro porque historicamente a maior parte do povo nunca soube ler e segundo porque com uma herança dessas nas costas pegar gosto pela leitura de livros difíceis se torna bem mais trabalhoso. Então viva aos livros fáceis que podem ser devorados em uma tarde, como as Sabrinas e Reader Diggest da vida!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ópio e mulheres


Para inaugurar a sessão de música daqui do blog nada melhor que começar com aquilo que nos faz sonhar, que nos leva a devaneios carregados do que a vida tem de melhor, o que é melhor para cada um claro. Começo falando de uma banda de década de 90 que começou e acabou junto com aqueles anos estranhos da música, a Morphine, uma banda com uma formação bem original que fazia um som irreprodutível hoje. Era formada por Mark Sandman nos vocais e com baixo slide de duas cordas apenas, Dana Coley no sax, as vezes com dois ao mesmo tempo e Billy Conway na bateria fechando o power trio. O som deles era chamado de low rock pelo próprio Mark Sandman, principal compositor e “líder” da banda. As letras tratavam normalmente de mulheres, boas maneiras de como xavecar as danadas com cantadas capazes de sair apenas da cabeça de um homem inteligente, iguais as do filme Things to do in Denver when you’re dead que tratarei em outro momento. Outros temas recorrentes nas letras das músicas eram os devaneios e pensamentos que ocorriam a Mark, tanto era que em certos momentos a música era apenas alguns ruídos com ele recitando pensamentos como na música “My Brain”. O som passei pelo rock, pelo jazz, mas com temática blues em alguns momentos. Só ouvindo para sentir a energia que a banda possui.
A banda acabou quando Mark sofreu um ataque cardíaco fulminante em cima do palco no exato instante que iria começa uma música chamada “Supersex”, som que mostra um bom jeito de se chegar numa mulher com classe mas mostrando que é homem de verdade. Para quem não conhece o som recomento começar com o cd “Cure for Pain” de 1993. A discografia é composta com cds de 1992 a 1997, fase que Mark estava vivo, os extras incluem lançamentos em 2000 do primeiro cd póstumo, pois já estava todo prontinho quando a fatalidade levou Mark em 1999 a poucos meses de fazer o lançamento oficial do cd e começar a turnê de divulgação. Talvez a banda fosse um produto da década de 90 e precisasse ficar com ela, não resistiria ao atual cenário da música pelo seu formato nunca antes, nem depois, realizado.

Abaixo seguem dois sons para vocês terem um gostinho:

Honey White


Thursday

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Escrever, suar e aprender



Escrever é exercício diário, não bastando uma, duas ou três vezes na semana para se chegar ao ponto que se quer na escrita. É mais exercício e estudo do que inspiração. Não estou negando a inspiração, ela existe, há sim uma força motora das ideias, porém não adianta se inspirar, inflar-se e colocar para fora sem alguma técnica, sem algum conhecimento de causa. Para o futuro escritor é necessária muita dedicação e vontade de verdade de colocar no papel aquilo que se tem na cabeça. A forma como se colocar é fundamental, não só a forma pela forma, mas a aliada à técnica, ao traquejo com as palavras, ao conhecimento do tema tratado e a certo talento que muita leitura e dedicação de anos conseguem dar a quem escreve. Bem utilizar as palavras é trabalho sério e cansativo, deve-se suar para chegar ao resultado esperado, pois pelo que sei nenhum texto nasce pronto, ele sempre vem como carcaça, como fantasma do texto original que ao poucos o artífice das palavras vai preenchendo com carne, vísceras, músculos e o tudo mais de necessário para a confecção de mais uma criação literária. Talvez você já tenha lido sobre isso em algum outro lugar, como eu também li, aqui estou apenas reforçando, solidificando uma ideia que já se discute há um tempo no meio dos escritores. Não sou um escritor ainda, mas o exercício da técnica e o estudo dos meios mais coerentes a mim estão me tornando aquilo que desejo: um escritor.

Bem vindos!


     Boa noite, essa é a primeira postagem do blog. Pretendo tratar aqui de muitos temas, vamos ver se darei conta sozinho. Aqui vai ser bem organizado, com cada dia uma publicação diferente de segunda a sexta, final de seman é quando organizo a semana seguinte, sempre com recomendações de músicas, livros, filmes e o que mais eu achar interessante e você também. Mas meu foco mesmo será o pensamento político, social e cultural de nosso tempo sob a minha ótica. Pelo que está vendo é bem pessoal, como todo e qualquer blog na blogosfera. Espero que meu pessoal seja algo com o qual você se sinta com vontade de sempre voltar para ler, comentar, discordar e debater. Quero pensamentos inteligentes a minha volta, quero gente que pense e converse e saiba muito bem o que dizer. Não tenho certeza de nada nessa vida apenas de minha morte, nada além disso.
Então, espero sua companhia por aqui.