Cambaleante como sempre, Augusto,
um sujeito alto e preguiçosamente sonolento, abriu a porta de sua casa. Olhou
para a rua ainda escura, agradeceu aos orixás por ter chegado em casa
novamente. Agradecia a cada madrugada que voltava com todas as suas posses nos
bolsos.
Largou a mochila sobre o tapete
da sala e esfomeado partiu para a cozinha. Mataria um boi para comer. Depois de
muito procurar, tudo o que encontrou foram apenas três bolachas soltas no fundo
do armário. Pegou-as, sentou ao chão e amargou um banquete que não teve.
Não tardou a devorá-las, uma por
vez como se fossem preciosidades enviadas do céu. Enquanto andava pela casa e
mastigava a primeira das três imaginava estar com um frango inteiro na boca,
assado, suculento, deixando aquele óleo gorduroso encharcar a boca. Fechou os
olhos para melhor visualizar. Em meio ao seu devaneio ouviu um mugido vindo do
quintal de sua casa. Abriu os olhos fitando a porta da cozinha que dava para os
fundos. Mera impressão.
Demorou um pouco ainda olhando,
mas nada de anormal ocorreu. Estava faminto mesmo. Deixou pra lá aquela
vertigem momentânea e jogou-se sobre a segunda bolacha. Dessa vez estava
comendo uma lasanha de proporções míticas, recheada dos mais diversos molhos e
queijos. Exalava um cheiro forte de saciedade, aguçando todo o seu poder
sensitivo. Fazia a fome parecer uma... Muuuuuuu – um segundo, e mais forte,
mugido soou. A neblina dos sonhos abandonou a cabeça do jovem atordoado.
Dentro do escuro seus olhos
espantados fitaram a porta. Havia medo e expectativa. Olhou para a terceira
bolacha tentando acreditar que ela não tinha nada de mofada ou de quimicamente
diferente. Será que tinham colocado alguma coisa nela? Questionou se deveria
comê-la de imediato ou se iria ao apertado quintal verificar como um bovino
qualquer teria conseguido chegar ali, bem no alto do morro.
- Onde guardei minha marreta e
meu facão?