Eu vou
publicar resenhas e comentários sobre Osman Lins quantas vezes quiser, se não
gostar pode pular isso aqui. Porque Osman Lins? Simples, o cara domina a língua,
ele escreve fantasticamente. O livro de hoje é O Fiel e a Pedra, romance que
retrata sobre escolhas, opções, formas de viver. A personagem principal é um
homem que tem um passado de escolhas erradas e um filho a caminho. Ele e a
esposa estão em um momento decisivo da existência, o homem precisa provar quem
é, no ambiente árido e másculo do interior nordestino. Bernardo, esse seu nome,
deve prover a família, aceitando assim a tarefa de cuidar de uma espécie de
sítio distante da cidade onde mora e apenas ele e sua esposa devem ir para lá,
botar rédeas nos homens que vivem no barracão e são responsáveis pelo
funcionamento do lugar. A narrativa é seca, dura, rasga como cachaça. Lenta, a
trama vai sendo desfiada pedaço a pedaço, o leitor deve ser paciente para
apreciar os acontecimentos. A difícil missão de Bernardo é assumir um lugar de
homens duros, realizando o desejo de um velho comerciante casado com uma
interesseira e um irmão invejoso de suas posses. As voltas que vão sendo dadas
da apresentação do herói até sua quase morte nos deixam tensos com cada
movimento.
Acervo Pessoal. |
Um livro que
retrata tempos onde homens eram homens(favor não confundir com sexismo,
machismo ou coisas assim), mantinham suas palavras, mas sem heroísmo, sem
grandes imagens, apenas homens tratando das coisas comuns do dia, empenhando
sua reputação nos acordos, nos tratos. Porém Osman mostra que esses tipos de
homens são tão raros na ficção quanto os são na vida real, apenas o
protagonista da trama tem esse comportamento, essa envergadura moral, os demais
são frouxos, ou tem interesses mais fortes que as promessas feitas, ou apenas
querem dinheiro e subsistência, mais nada além disso.
Ler o livro
exige do leitor tanto quanto de Bernardo, você deve penetrar lentamente na
história, acompanhar o ritmo de coisas passadas no tempo vagaroso, na calma de
quem esperar acontecer cada fato com o tempo necessário. Nosso costume de tudo
rápido, ligeiro, terminando antes mesmo de começar não tem nada a ver com o
livro, pois nele tudo vai de acordo com seu tempo: o dia antes da tarde e a
tarde antes da noite. Diferente de hoje não? Quando a tarde parece vir antes do
dia e a noite antes do entardecer. Vivemos tempos céleres e quem poderá nos
defender deste pressa? O Fiel e a Pedra nos remete a uma época onde viver era
acompanhar uma cadência lenta onde cada próximo passo era diretamente ligado ao
anterior e dependia de uma execução completa daquele movimento para este ser
iniciado.
As imagens
criadas por Osman Lins me prenderem, como todos os outros livros dele. É
impossível não imaginar aquele homem duro, com sua fiel esposa, tomando em suas
mãos os rumos de um lugar malassombrado sem saber a sorte imbricada naquele
espaço físico maldito. Bernardo prova ser um tipo raro, assim como as paisagens
retratadas ali, naquele romance. Ao lê-lo lembro das viagens que empreendi
criança com meu pai e como mudou a paisagem desse interior, antes com cara de
algo afastado e diferente da civilização, hoje apenas simulacro de cidade
grande.
O Fiel e a
Pedra leva quem lê a medir-se, pesar-se, afiar-se. Aquele tipo de livro que
leva a questionamentos morais, nos traz de volta ao citado no primeiro
parágrafo: até onde um homem pode suportar o peso de suas escolhas?
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