quarta-feira, 18 de março de 2015

O Fiel e a Pedra - Osman Lins

Eu vou publicar resenhas e comentários sobre Osman Lins quantas vezes quiser, se não gostar pode pular isso aqui. Porque Osman Lins? Simples, o cara domina a língua, ele escreve fantasticamente. O livro de hoje é O Fiel e a Pedra, romance que retrata sobre escolhas, opções, formas de viver. A personagem principal é um homem que tem um passado de escolhas erradas e um filho a caminho. Ele e a esposa estão em um momento decisivo da existência, o homem precisa provar quem é, no ambiente árido e másculo do interior nordestino. Bernardo, esse seu nome, deve prover a família, aceitando assim a tarefa de cuidar de uma espécie de sítio distante da cidade onde mora e apenas ele e sua esposa devem ir para lá, botar rédeas nos homens que vivem no barracão e são responsáveis pelo funcionamento do lugar. A narrativa é seca, dura, rasga como cachaça. Lenta, a trama vai sendo desfiada pedaço a pedaço, o leitor deve ser paciente para apreciar os acontecimentos. A difícil missão de Bernardo é assumir um lugar de homens duros, realizando o desejo de um velho comerciante casado com uma interesseira e um irmão invejoso de suas posses. As voltas que vão sendo dadas da apresentação do herói até sua quase morte nos deixam tensos com cada movimento.
Acervo Pessoal.
Um livro que retrata tempos onde homens eram homens(favor não confundir com sexismo, machismo ou coisas assim), mantinham suas palavras, mas sem heroísmo, sem grandes imagens, apenas homens tratando das coisas comuns do dia, empenhando sua reputação nos acordos, nos tratos. Porém Osman mostra que esses tipos de homens são tão raros na ficção quanto os são na vida real, apenas o protagonista da trama tem esse comportamento, essa envergadura moral, os demais são frouxos, ou tem interesses mais fortes que as promessas feitas, ou apenas querem dinheiro e subsistência, mais nada além disso.
Ler o livro exige do leitor tanto quanto de Bernardo, você deve penetrar lentamente na história, acompanhar o ritmo de coisas passadas no tempo vagaroso, na calma de quem esperar acontecer cada fato com o tempo necessário. Nosso costume de tudo rápido, ligeiro, terminando antes mesmo de começar não tem nada a ver com o livro, pois nele tudo vai de acordo com seu tempo: o dia antes da tarde e a tarde antes da noite. Diferente de hoje não? Quando a tarde parece vir antes do dia e a noite antes do entardecer. Vivemos tempos céleres e quem poderá nos defender deste pressa? O Fiel e a Pedra nos remete a uma época onde viver era acompanhar uma cadência lenta onde cada próximo passo era diretamente ligado ao anterior e dependia de uma execução completa daquele movimento para este ser iniciado.
As imagens criadas por Osman Lins me prenderem, como todos os outros livros dele. É impossível não imaginar aquele homem duro, com sua fiel esposa, tomando em suas mãos os rumos de um lugar malassombrado sem saber a sorte imbricada naquele espaço físico maldito. Bernardo prova ser um tipo raro, assim como as paisagens retratadas ali, naquele romance. Ao lê-lo lembro das viagens que empreendi criança com meu pai e como mudou a paisagem desse interior, antes com cara de algo afastado e diferente da civilização, hoje apenas simulacro de cidade grande.

O Fiel e a Pedra leva quem lê a medir-se, pesar-se, afiar-se. Aquele tipo de livro que leva a questionamentos morais, nos traz de volta ao citado no primeiro parágrafo: até onde um homem pode suportar o peso de suas escolhas?

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