Primeiro vou falar de minhas
impressões do filme: karatê kid da bateria, com algumas ressalvas. É
interessante como é colocada a obsessão do baterista em ser o melhor do mundo.
Ele treina, treina e treina. Esse excesso de treino é a grande diferença entre
ele e o karatê kid, o baterista já tinha uma bagagem prévia e se esforça para
ir além de seus limites. A grande sacada é: não existe dom, mas sim exercício,
treino, prática, preocupação em saber fazer bem feito, sem preguiça, sem má
vontade. Como diz a personagem
de J.K Simmons em uma frase espetacular: There are no two words in English
language more harmful than “good job”. Traduzindo: Não existem duas
palavras mais nocivas na língua inglesa do que “bom trabalho”. Isso não se
aplica só à musica, mas a tudo. Você elogiar um preguiçoso, um incompetente, um
que faz o serviço de qualquer jeito. Nesse momento onde a frase é dita está
acontecendo um diálogo fundamental entre Neyman e Fletcher, as chaves mestras
do filme.
Para quem conhece música de
verdade, sabe de onde ela vem e para onde a miserável vai. Nada mais
prejudicial do que esperar genialidade de um ser que nunca pega no instrumento
e quer colher os louros da fama. Por pior que seja a música de um Michel Teló,
Luan Santana ou Calypso o bom músico reconhece: todos esses estudaram muita
música. Por incrível que pareça, o tal do Psy tem carteira de músico e é
formado em conservatório, ele apenas escolheu ganhar dinheiro e para isso só é
fazer música babaca para o povo ignorante de processo criativo e com a
tradicional preguiça de pensar e ouvir.
Da mesma forma funcionam as
empresas privadas de grande porte: elas contratam os melhores, com muita
prática e exercício, pagam pouco para eles e fazem parecer para a grande massa
que aquilo é simples e qualquer um em algum momento iluminado é capaz de
produzir a mesma qualidade de material e serviço. Whiplash me fez perceber isso
com muito mais clareza: a boa música vem de muito exercício. Mas uma coisa
básica do meio artístico Whiplash omite: boas amizades colocam em evidência, ou
até no sucesso, músicas de péssima qualidade.
No filme o espectador acompanha a
luta de um músico para ser reconhecido e alcançar a excelência em execução para
poder ficar no mesmo patamar dos gênios e ídolos do estilo musical selecionado
como seu. Assistindo você até pensa: basta ser muito bom e praticar o
suficiente, Deus dá a graça, mas se levado a sério se percebe que não há Deus,
nem graça, existe sim uma grande chance de se decepcionar, uma chance maior
ainda de dar errado todo o plano e que o talento não existe de fato, só a
vontade de crescer e continuar é verdadeira.
Antes de encerrar queria só
ressaltar algo extremamente notável: a trilha sonora do filme é foda. Escuto
quase todo dia pela qualidade das músicas e a preocupação com um material de
primeira linha. Raros os filmes hoje capazes de juntar músicas coerentes com a
história e ainda assim ser interessante de se ouvir, posso citar alguns filmes
aqui como Onze Homens e um Segredo, Sucker Punch, Guardiões da Galáxia, A Onda,
Juno, Scott Pilgrim e Pulp Ficiton. Portanto se não gostar do filme sugiro que
pelo menos pare para ouvir a primorosa OST(Original SoundTrack). Logo mais
farei um post sobre OSTs.
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