quinta-feira, 13 de março de 2014

Esfacelados, partidos e soltos no espaço

Boa noite, trago para vocês hoje um livro muito bom para entendermos o mundo moderno, ou pós-moderno como dizem outros, é o “Tudo que é sólido desmancha no ar” de Marshall Berman, como de costume não falarei da formação do autor nem de sua biografia, existem outros sites que podem dar essa informação. Para quem é fruto do mundo moderno, onde ler mais que alguns caracteres é um esforço hercúleo, vale a pena fazer essa força por esse livro, pois traz diversos questionamentos, colocações críticas e posicionamentos diante da história recente do Ocidente. O Oriente aqui não é tratado por não ter influência direta sobre os fatos e pensamentos analisados por Berman. Ele começa fazendo um apanhado do Romantismo do Século XIX e como as forças produtivas e sociais estavam passando por uma intensa convulsão no seio da sociedade recém industrializada. A forma como ele pega o Fausto de Goethe para base interpretativa e conduz isso ao longo da primeira parte do livro é fantástica, ele mostra o homem como alguém altamente dependente da transformação, do novo, do eterno destruir, construir, destruir e voltar a erguer algo novo sobre as ruínas do velho.

A medida que ele avança sobre essa análise, utilizando outros autores de peso, vai adentrando os séculos seguintes até os recentes anos oitenta, sempre mais rápido, o fluxo de criação e destruição e criação se tornam mais intensos e a necessidade do novo se faz mais e mais forte a cada momento, tanto no livro, quanto na nossa realidade. Essa obra não é nem um pouco distante do nosso cotidiano, talvez seja difícil sua linguagem para aqueles não habituados a leituras um pouco mais complexas, mas não chega nem perto do hermetismo de Sartre ou Michel De Certeau. Ele aponta os principais germes das transformações do mundo, mas a palavra que poderia sintetizar este livro é: inquietação. O ser humano nunca está satisfeito, ele nunca chega no auge, nunca está pleno, as coisas sempre deixam a desejar, sempre fica aquela sensação do inacabado.

Se procura ampliar sua capacidade de perceber o mundo e entender essas recentes, e estupidamente aceleradas, mudanças do mundo, este livro se torna quase leitura obrigatória, não é totalmente obrigatória porque algo do qual não é opção livrar-se não serve. Ajuda a entender a importância da rua como centro de movimentação social e como é interessante, para o poder constituído, destruir a rua para matar as possibilidades de contato. As redes sociais não têm a mesma força da rua, pois pouco adianta uma convulsão dentro da internet se ela não toma forma física, não apresenta o poder destruidor e avassalador das massas motivadas.

Ler esta obra nos faz mergulhar dentro de uma sensação de fragmentação, de dispersar-se, faz-nos querer correr para o mundo lá fora e fazê-lo nosso, torna-lo o lugar pelo qual acordamos e pelo qual vale arriscar o pescoço para impedir certos abusos de quem detém o poder econômico e acredita reger plenamente o mundo.

Então vamos à rua!

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