quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sopro Divino

Pietá - Michelangelo
A inspiração pressupõe algo divino na criação da obra de arte. Inspirar vem da ideia do sopro criador que entra, por isso inspiramos. Colocamos para dentro algo superior, algo divino, algo maior que todos nós, e a expiração é a arte, seja ela em forma de música, pintura, quadrinhos, teatro, dança, etc. É verdade isso? Será mesmo verdade? Bem, para quem acredita em inspiração sim, pois desde os gregos a inspiração tem essa conotação divina. Mas um bocado de mal informado e sem leitura histórica chama de inspiração aquele estalo, também chamado de insight, responsável por nos fazer ver o germe de uma obra de arte. Não acredito em inspiração, acredito no resultado de um processo longo de internalização, de construção de uma imagem, de um som, de uma ideia. O artista é basicamente aquele ser capaz de pegar todos os estímulos ao seu redor e transformá-los em algo novo dentro de uma linguagem (música, literatura, pintura, etc..) eleita por ele para se expressar. Portanto ele não tem inspiração, ele consegue é misturar tudo dentro de sua cabeça. Algumas misturas levam tempo para atingirem o ponto máximo, o melhor ponto de torra, como um bom café, mas outras são bem rápidas. O momento onde ocorre a inspiração, o estalo, é quando todos os ingredientes do bolo chegam a homogeneidade e ficam prontos para consumo, uso, degustação. Acreditar que uma força exterior do nada vem trazer a obra pronta é jogar muito com o acaso, e não há acaso capaz de me convencer que os grandes trabalhos de arte são fruto de nenhum estudo, de nenhuma capacidade técnica, mas apenas resultado de um lance de sorte. Atribuir à sorte resultados tão plenos quanto o riff de Voodo Child, ou as harmonias foderosas de Morphine ou Deftones é menosprezar o trabalho, e dedicação, de músicos altamente capacitados que se dedicaram muitas e muitas horas para colocar em registros sonoros aquelas melodias existentes dentro de suas cabeças. Portanto inspiração não existe, pois alguém que consegue perceber o momento exato de construir uma obra artística é aquele diariamente disposto a ver, ouvir, estudar e criar. Nenhum artista se faz do dia para a noite, nenhuma obra nasce pronta, ela primeiro passa por diversos ajustes, lapidações, como o próprio Michelangelo dizia, como Da Vinci comprovou em seus diversos estudos de anatomia. Todos os grandes artistas, quando falo de grande é gente responsável por captar o espírito das épocas, são intensos pesquisadores da natureza humana, do mundo, da “alma”, da realidade. Então se você ainda acredita em inspiração é por estar no primeiro estágio da iniciação artística, pois ao passar dessa visão romântica e infantil perceberá que apenas após um árduo trabalho de entrega, pesquisa, aprendizado, conhecimento e dedicação será capaz de realizar arte. Mas não acredito em arte também como pregam por aí, mas isso é papo para outro artigo.



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