segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Manicômios, conventos e prisões – Erwin Goffman

Não sou estudioso de ciência social alguma, apenas sou um leitor. Esse livro daí do título li em agosto, como parte de minha meta de leitura do ano. Pretendo ler vinte e quatro livros por ano, até o presente momento estou em dezoito. Escolho os danados pelo tema, esse é um deles. Os loucos, os presos e os religiosos. São todos parecidos de alguma forma, cada um dentro de uma gaiola diferente, a prisão mental, a prisão física, a prisão da alma. Erwing Goffman traz justamente a visão de um estudioso sobre as instituições, chamadas de totais, que mantêm esse povo todo trancafiado onde sociedades paralelas ao mundo se formam, existem e têm suas próprias regras.

Os manicômios tomam a maior parte do texto do livro, principalmente pelo fato do autor ter vivido, como estudioso com licença para observação, durante muitos anos dentro de um hospital psiquiátrico de grande porte. Muito legal os momentos onde ele explica como se organiza esse mundo paralelo. Os insanos se comportam parcialmente como nós, em busca de favores, maiores liberdades, amores, status dentro do meio em que vivem, claro, tudo isso com o viés da realidade como eles a enxergam. Os funcionários muitas vezes não tomam conta do paciente, os deixam livres para agirem dentro daquele espaço limitado chamado enfermaria. Essas enfermarias e o sistema de progressão, ou regressão, dentro delas toma boa parte das linhas, pois é um sistema meritocrático, lá dentro como aqui fora, e bastante complexo. Os sistemas de favores, de trabalhos realizados por pacientes, de alta e de retorno. Lendo o livro você começa a se sentir meio louco também, ou imagina que eles nem são tão loucos assim.

As prisões propriamente ditas são mais baseadas em interpretações e citação de pesquisas de colegas de profissão, pois Goffman é sociólogo, pelo que pude entender e utiliza alguns dos conceitos e descrições de seus pares. O sistema monetário dos presos, sejam eles de guerra, sejam eles fruto do ambiente urbano/rural, é o mesmo do utilizado nos manicômios: o cigarro. Por alguns filmes que assisti, e conversas com ex-presidários, isso não mudou em cem por cento, existe uma forma de escambo dentro dos presídios. O trabalho dentro da cadeia como forma de progressão da pena e atestado de recuperação funciona de forma semelhante ao dos hospícios, porém com as ressalvas dos tipos de trabalhos realizados e o grau de liberdade para se realizar essas tarefas. O preso carcereiro assim como o insano com as chaves da enfermaria é realidade nas instituições que os mantêm cativos.
Os conventos são a parte menos abordada dentro do livro por se tratar, na maior parte das vezes, uma instituição onde a internação é voluntária, por algum sentido de vocação ou chamado divino. Acredito que Goffman colocou os conventos por também se tratarem de instituições totais assim como as outras duas citadas nos parágrafos anteriores. O grau de escambo e desejo de ter “alta” quase não existe nesse tipo tratado aqui nesta parte do texto. Porque? Acredito a resposta ser o fato das pessoas ali possuírem um sentido especial em suas vidas, nisso claro tomando a fé delas como referência, porque eu não acredito em sentido especial para nada, a gente nasce e morre depois de um tempo, o intervalo entre nascer e morrer é obrigação nossa inventar o que fazer, não há missão nem nada de especial nisso. Somos máquinas de fazer mijo e merda.

Percebi agora uma coisa: não expliquei o que danado são instituições totais. Muito bem, parte didática do texto. Essas instituições são locais onde as pessoas desenvolvem todas as suas atividades, sejam os lazeres, as obrigações, ou quaisquer outras coisas capazes de passar por sua cabeça. Esses lugares são responsáveis por reintegrar o indivíduo à sociedade “curado” do mal responsável por interná-lo. O dormir e o acordar normalmente são regulados por horários, o comer, o vestir, o falar, tudo, tudo mesmo, pior que uma ditadura. Todas as regras são criadas para readaptar o sujeito, o problema é a consequente criação de formas de resistência ao sistema imposto. Pessoas não são tão simples assim de mudarem e obedecerem. Portanto as instituições totais nunca dão conta de todo o problema para o qual foi criada. Sempre há falhas.


Ao final disso tudo minha cabeça percebeu melhor algumas formas de prisão voluntariamente criadas por nós. Somos muito complexos e as vezes perdemos tempo com besteira, com protocolos inúteis, meias palavras, meios pensamentos, metades de vidas e o grande problema disso é a nossa liberdade para decidirmos agir como desejamos e foda-se quem achar ruim. Talvez o grande problema seja esse, a falta de respeito com as opções de vidas alheias. Normalmente não aceitamos, acolhemos, as pessoas que escolheram viver diferente de nós e isso causa um problema imenso pois a maior parte do mundo não vive como vivemos. Cada ser humano pertence a uma parcela pequena da população mundial e tem formas culturais e de vivência muito, mas muito particulares mesmo!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Miss Taho

Resolvi começar a colocar aqui também os artistas visuais que admiro tanto. Vou postando a medida que juntar uma boa quantidade de imagens de cada um e achar os links para os locais onde eles publicam seu trabalho.
Abro hoje com uma artista autointitulada Miss Taho, o nome dela é Fatima Camiloza, norte americana da Califórnia. Vou colocar algumas imagens, depois delas os links para os sites.
Se deliciem com as aquarelas, artes digitais e demais trabalhos dessa artista.

 











Links:
Deviantart, Twitter, Facebook, Tumblr, Behance, Site.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O boi de Maurício

  Cambaleante como sempre, Augusto, um sujeito alto e preguiçosamente sonolento, abriu a porta de sua casa. Olhou para a rua ainda escura, agradeceu aos orixás por ter chegado em casa novamente. Agradecia a cada madrugada que voltava com todas as suas posses nos bolsos.
     Largou a mochila sobre o tapete da sala e esfomeado partiu para a cozinha. Mataria um boi para comer. Depois de muito procurar, tudo o que encontrou foram apenas três bolachas soltas no fundo do armário. Pegou-as, sentou ao chão e amargou um banquete que não teve.
   Não tardou a devorá-las, uma por vez como se fossem preciosidades enviadas do céu. Enquanto andava pela casa e mastigava a primeira das três imaginava estar com um frango inteiro na boca, assado, suculento, deixando aquele óleo gorduroso encharcar a boca. Fechou os olhos para melhor visualizar. Em meio ao seu devaneio ouviu um mugido vindo do quintal de sua casa. Abriu os olhos fitando a porta da cozinha que dava para os fundos. Mera impressão.
   Demorou um pouco ainda olhando, mas nada de anormal ocorreu. Estava faminto mesmo. Deixou pra lá aquela vertigem momentânea e jogou-se sobre a segunda bolacha. Dessa vez estava comendo uma lasanha de proporções míticas, recheada dos mais diversos molhos e queijos. Exalava um cheiro forte de saciedade, aguçando todo o seu poder sensitivo. Fazia a fome parecer uma... Muuuuuuu – um segundo, e mais forte, mugido soou. A neblina dos sonhos abandonou a cabeça do jovem atordoado.
   Dentro do escuro seus olhos espantados fitaram a porta. Havia medo e expectativa. Olhou para a terceira bolacha tentando acreditar que ela não tinha nada de mofada ou de quimicamente diferente. Será que tinham colocado alguma coisa nela? Questionou se deveria comê-la de imediato ou se iria ao apertado quintal verificar como um bovino qualquer teria conseguido chegar ali, bem no alto do morro.   

   Curioso, a passos lentos atingiu a porta e foi-lhe derrubada a dúvida. Que seus santos o protegessem daquilo que estava vendo agora. Lá estava o antigo e medonho, o encantado e mítico Boi Voador! Suas asas negras e seu couro grosso enfeitavam o minúsculo local. Amarrado a uma estaca o animal o fitava, mexia a boca ironicamente, comia o capim da ilusão. Augusto mal sabia o que fazer. Um sorriso tomou lugar em seu rosto ao escorrer a saliva pelo canto de sua boca. A imagem de um suculento bife tomou-lhe a imaginação. Lampejou o pensamento:

- Onde guardei minha marreta e meu facão?

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Repo, a Genetic Opera

Sei que boa parte do público de filmes tem resistência ou raiva mortal de musicais, mas esse você tem que assistir. Porque tem que assistir? Ora, porque eu estou dizendo isso, e raramente erro em minhas recomendações. O filme se passa em uma distopia onde as pessoas podem simplesmente comprar um novo órgão fabricado a partir de seus próprios genes. Já assistiu O Homem Bicentenário, baseado no conto homônimo de Isaac Asimov? É mais ou menos naquela linha as produções de órgãos. Caso ainda não tenha assistido procure e se delicie. Algumas pessoas, porém, não tem condições de pagar pela aquisição do novo órgão e devem pagar de alguma forma essa protelação da morte, a solução, para a empresa que vende, é mandar o caloteiro para a faca novamente, mas dessa vez através de Repoman, um carrasco que trabalha para a companhia detentora do monopólio de fabricação dessas novas peças de reposição. Já ouviu falar da história de Jack, o Estripador? Ah, não diga que não, vá procurar um pouco então pela internet e passe da primeira página de pesquisa do google, ou mude os filtros de pesquisa. O Repoman é a cópia distorcida desse criminoso nunca capturado. Aparentemente é bem clichê o roteiro, mas se desenvolve uma trama com a filha desse Repoman, ela não sabe ser ele o responsável pelas mortes que aterrorizam a sociedade. Além do mais a moça tem uma ligação mais forte indo além dos laços familiares e o passado de seu pai que envolve o alto escalão da empresa, mas não direi mais senão vou acabar liberando informações que comprometem a diversão de quem não gosta de spoilers, grande besteira, mas tudo bem.
A ambientação do filme chama muito a atenção, ela é uma mistura cyberpunk com steampunk e as músicas são todas voltadas para o rock com pegadas metal, numetal e heavy metal. Selecionaram a cantora Sara Brightman para ser uma das personagens fundamentais do filme. As músicas são muito bem montadas com as cenas, podemos chamar de Gothic Opera, para quem gosta de termos afrescalhados, ou rótulos em geral. Quando era adolescente não tive oportunidade de ter acesso a um filme desses, o mais perto foi O Corvo 2, com o Deftones na cena do carnaval. A trama se desenvolve como uma peça Shakespereana, porém sem metade da profundidade desse autor inglês, mais por causa do elenco, incapaz de dar veracidade ao ato de atuar. Se você não foi adolescente na época do numetal e afins e não gosta de musical, talvez nem se encante tanto.
Créditos da imagem: http://thirtysevensquared.deviantart.com/art/Repo-Genetic-Opera-Fan-Poster-200298403


Recomendo a trilha sonora do filme, a OST(Original Soundtrack), vale muito a pena baixar e ouvir. Não vou postar o link porque na web agora tá uma putaria da porra, todo mundo reclama direito autoral e essa coisa toda, mesmo o link sendo gratuito para quem baixa, mesmo se eu não ganhar um centavo tem aquele risco de processo da produtora e gente seca por dinheiro. Então procura aí no 4shared, kickass ou afins e ouve, ou via inernet mesmo, sem baixar, a opção é sua, mas não deixe de ouvir.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Existe Arte?

Jackson Pollock

Acredito estar ficando chata essa minha implicância com a arte, principalmente com os artistas. Me pergunto se existe arte da forma como ela é tratada. E como ela é tratada pela população de um modo geral e alguns artistas iniciantes? Consideram que ela está em um patamar divino, de inspiração, de algo especial, como se fosse algo de outro plano que entra nesse através de pessoas iluminadas por algum canal desconhecido. Isso não é verdade, o artista é um trabalhador como qualquer outro, não é um vadio esperando apenas investimento público através de editais para poder sobreviver, ele é alguém que precisa se especializar para poder viver de seu ofício, ou ser apenas um peão do mundo das artes. Respondo a pergunta desse texto dizendo: sim, existe arte, mas não como algo especial e separado do comum, do corriqueiro.

Quero apresentar esse ponto de vista: a arte é algo corriqueiro e fruto de muito esforço individual da pessoa chamada artista. Aquele ser capaz de produzir poesias fantásticas, capazes de tocar no mais íntimo das pessoas, ou o músico que, conscientemente, faz suas melodias no intuito de alcançar a maior quantidade de pessoas. O artista é um trabalhador, um operário, um como qualquer outro, não há nada de especial nele. Mas rapaz, você está menosprezando a arte! Não estou, e digo isso por saber o quanto a pessoa sua para chegar a ser capaz de desenhar uma história em quadrinhos na linha de Sandman, Turma da Mônica, Calvin e Haroldo e tantas outras que gosto de ler, o tempo gasto em cima de folhas de papel para extrair traços coerentes com a imagem mental da personagem, a preocupação com o roteiro, os quadros, a sequência narrativa, tudo isso. Mas me diga onde isso é diferente de levantar uma casa, dirigir um ônibus ou limpar as ruas da cidade? Nem um pouco diferente. O quadrinista, o músico, o pintor, assim como o motorista, o gari e o pedreiro, devem ser capazes de executar bem seu serviço, sua profissão, seu ofício para não morrerem de fome. Mas a arte tem um propósito maior! Tem mesmo? Acredito ser ela fruto de vaidade, egoísmo e outros valores nada nobres. O que é a arte senão a paixão de um homem e a capacidade desse homem de utilizar-se de uma “linguagem artística” para colocar suas ideias no mundo? Assim como o economista utiliza-se de uma linguagem para expor sua paixão e impor suas ideias, ou pelo menos apresenta-las ao mundo. Você acredita mesmo que há diferença entre o trabalho de um cantor e o de um professor quando ambos são apaixonados pelo que fazem?

Então arte existe sim, mas ela é uma atividade de sobrevivência e de paixão como qualquer outra profissão. Existem diversas pessoas que trabalham apenas para comer, comprar uma televisão nova ou ir ao jogo de futebol de seu time, mas pode perguntar a elas quais suas paixões e que profissões gostariam de exercer e aí você verá a semelhança dela com a de um artista profissional. Aquele que trabalha no que não gosta para sobreviver é igual ao artista amador, ele não tem força de vontade suficiente para se dedicar a sua paixão e abdicar de tudo para vive-la. Os melhores em suas profissões são os mais apaixonados e mais dedicados a ela.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Esfacelados, partidos e soltos no espaço

Boa noite, trago para vocês hoje um livro muito bom para entendermos o mundo moderno, ou pós-moderno como dizem outros, é o “Tudo que é sólido desmancha no ar” de Marshall Berman, como de costume não falarei da formação do autor nem de sua biografia, existem outros sites que podem dar essa informação. Para quem é fruto do mundo moderno, onde ler mais que alguns caracteres é um esforço hercúleo, vale a pena fazer essa força por esse livro, pois traz diversos questionamentos, colocações críticas e posicionamentos diante da história recente do Ocidente. O Oriente aqui não é tratado por não ter influência direta sobre os fatos e pensamentos analisados por Berman. Ele começa fazendo um apanhado do Romantismo do Século XIX e como as forças produtivas e sociais estavam passando por uma intensa convulsão no seio da sociedade recém industrializada. A forma como ele pega o Fausto de Goethe para base interpretativa e conduz isso ao longo da primeira parte do livro é fantástica, ele mostra o homem como alguém altamente dependente da transformação, do novo, do eterno destruir, construir, destruir e voltar a erguer algo novo sobre as ruínas do velho.

A medida que ele avança sobre essa análise, utilizando outros autores de peso, vai adentrando os séculos seguintes até os recentes anos oitenta, sempre mais rápido, o fluxo de criação e destruição e criação se tornam mais intensos e a necessidade do novo se faz mais e mais forte a cada momento, tanto no livro, quanto na nossa realidade. Essa obra não é nem um pouco distante do nosso cotidiano, talvez seja difícil sua linguagem para aqueles não habituados a leituras um pouco mais complexas, mas não chega nem perto do hermetismo de Sartre ou Michel De Certeau. Ele aponta os principais germes das transformações do mundo, mas a palavra que poderia sintetizar este livro é: inquietação. O ser humano nunca está satisfeito, ele nunca chega no auge, nunca está pleno, as coisas sempre deixam a desejar, sempre fica aquela sensação do inacabado.

Se procura ampliar sua capacidade de perceber o mundo e entender essas recentes, e estupidamente aceleradas, mudanças do mundo, este livro se torna quase leitura obrigatória, não é totalmente obrigatória porque algo do qual não é opção livrar-se não serve. Ajuda a entender a importância da rua como centro de movimentação social e como é interessante, para o poder constituído, destruir a rua para matar as possibilidades de contato. As redes sociais não têm a mesma força da rua, pois pouco adianta uma convulsão dentro da internet se ela não toma forma física, não apresenta o poder destruidor e avassalador das massas motivadas.

Ler esta obra nos faz mergulhar dentro de uma sensação de fragmentação, de dispersar-se, faz-nos querer correr para o mundo lá fora e fazê-lo nosso, torna-lo o lugar pelo qual acordamos e pelo qual vale arriscar o pescoço para impedir certos abusos de quem detém o poder econômico e acredita reger plenamente o mundo.

Então vamos à rua!

quarta-feira, 12 de março de 2014

Incrédulo

Eu não acredito na arte, não acredito em protesto. Acredito apenas que o capital compra tudo. Tenho andado inquieto pensando nisso com muita frequência, sem muita vontade de ir pra rua e procurar respostas. Sei que não as encontrarei aqui, dentro desta casa, dentro de meu corpo, de minha cabeça. O mundo do lado de cá, longe da arte, da poesia, dos movimentos sociais, me faz acreditar não existir nada além de casa-ônibus-trabalho-ônibus-casa. É seco e estéril, é sem verdade, sem mentira, é apenas uma forma de ganhar dinheiro para se manter. Mas e a arte? O que é o artista? Ele precisa de dinheiro? Sim precisa, como todo mundo. Ele precisa se manter? Sim, ele precisa, como todo mundo. Então quando a arte é autêntica e quando ela é apenas uma forma de ganhar uns trocados para a sobrevivência? Por isso não acredito em arte, acredito que o capital compra tudo. É muita insatisfação, talvez até  remorso por não ter me jogado no mundo, me largado em todos os lugares que pude. Mas penso sozinho, será meu pensamento hoje diferente daquele caso houvesse andado por aí, a esmo, vivendo “como artista”? Não sei responder. Não acredito em inspiração, não acredito em tendências, acredito apenas no trabalho. Mas qual trabalho? Como posso lhe explicar? É mais ou menos assim. Um artista para chegar ao ponto do reconhecimento ele deve ser alguém com muito conteúdo, com muita formação, alguém capaz de agregar muita informação, digerir e comunicar de uma forma completamente sua. Mas isso muitos fazem, porém como saber o que é autêntico e o que é forjado? Como diferenciar o fruto da pura arte do fruto daquilo comprado pelo capital? Pois todos precisam comer e morar, dormir e se drogar. Não sei no que acreditar, pois arte é crença, cama, sexo e vazio.
stante ou mp3 enchem nossos aparelhos de reprodução de música.

terça-feira, 11 de março de 2014

Frevo

Agora que acabou o carnaval vamos retomar nossas vidas. Voltaremos a passar o resto do ano, e o começo do próximo, sem colocar frevo para tocar em nenhum dia. Não escutaremos esse ritmo “pernambucano” em momento algum, será apenas de sexta a quarta de cinzas, como todo ano. Porque é assim? Porque dizemos que esse ritmo é nosso e não o ouvimos diariamente como a tantos outros ritmos das terras vizinhas e distantes? Esse ritmo não é nosso, apenas no carnaval. A imagem do frevo está associada ao carnaval, lamento por isso, mas assim a maioria pensa. Muitos nem gostam da música. Mas quando toca ninguém procura ouvir o novo produzido pelos nossos artistas, ainda estão saudosos de frevos que já eram saudosos quando criados. Muita gente dentro das universidades estuda frevo, mas essa muita gente da universidade é pouca dentro da sociedade. Escuto frevo “fora de época” porque realmente gosto, é algo meu e de outros poucos que conheço. Como entender um ritmo ser nosso e não estar tocando nas rádios durante o ano todo? Como admitir sermos da terra desse estilo tão original e não sabermos quem compôs o Frevo na Chuva ou o Passo de Anjo? Quem são Spock e Formiga? Não sabemos responder não é? Então se envergonhe de se dizer pernambucano, ou não, pois nossas escolas não ensinam essa cultura a nossos alunos, apesar da disciplina Cultura Pernambucana estar lá, nossos alunos não sabem quem são essas figuras, ou essas músicas. É vergonhoso um estado ter um patrimônio musical desse e não estimular sua ampla disseminação, mais vergonhoso ainda é que as pessoas saibam ser estilo musical nosso e não fazerem questão de ouvi-lo. Gastamos dinheiro e tempo com tanto de fora e não dedicamos nenhum tempo ao frevo. Somos realmente muito incompetentes em desenvolver cultura, em nos expandirmos, pois é como estar em casa e não saber quais cds ocupam nossa estante ou mp3 enchem nossos aparelhos de reprodução de música.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Crítico

Andei pensando como é fácil falar dos outros, dos defeitos, dos erros cometidos, dos caminhos tronchos escolhidos por eles, mas e eu? Nós? Como ficamos? Somos donos da verdade e dos acertos? Sempre estamos corretos nas escolhas feitas? Não, com certeza, sem medo de errar, respondo não a essas perguntas, erramos um bocado. O erro depende do sujeito, depende daquilo considerado erro por cada um. Acredito, na verdade, não haver erro nos nossos atos, são apenas escolhas tomadas nos momentos indevidos, opções de caminho quando na verdade deveríamos fazer outra escolha para nos machucarmos menos, pois isso é o erro não é? O dano causado a nós por nós, ou causado a alguém que amamos. Quando o dano é direcionado a uma pessoa fruto de nosso ódio, ou desdém, não é erro, pois temos prazer em fazer aquilo que machuca esse outro. O respeito pelo ser humano? Alguns não merecem respeito, nem nós mesmos merecemos em alguns momentos de nossas vidas. Exigir respeito o tempo todo e procurar ver sempre o melhor do outro é algo completamente irracional e inumano, não existe ninguém que eu conheça capaz de ser alegre o tempo inteiro. Todos têm seu dia de fúria, seu momento de odiar, de repudiar, sentir raiva. Criticar o outro por uma atitude, se dizer dono da verdade, explicando como deveriam ser os atos da criatura para a vida dela se tornar melhor e satisfazer nossos desejos de sabedores de tudo é algo muito errado. Inclusive isso coloca meu texto em um ponto bem estranho, pois aqui estou eu dizendo como deveríamos agir e a minha opinião a respeito disso tudo, exatamente o motivo de minha crítica. Como conviver com esse tanto de gente cheia de verdade como eu? Não sei responder, espero nunca saber.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Filme do Dia - Die Welle(A Onda)

Fazia tempo que vinha adiando assistir esse filme, pois amigos recomendaram, professores da faculdade, livros sobre nazismo e totalitarismos em geral. Então depois de tanta pressão resolvi ver se prestava, baixei e vi. O que foi aquilo? O filme é muito bom, tanto no argumento, quanto na estruturação das cenas e a trilha, bixo que trilha. Primeiro ponto que me chamou a atenção foi o som, começa com Rock’n’roll High School e mostra um cara de jaquetão chegando na escola. Até aí pensei se tratar de um aluno repetente, mas era um professor de história(identificação imediata a partir daí), no desenrolar da trama a argumentação e os diálogos fáceis, mas bem estruturados, demonstram a simplicidade cruel que é o nazismo, ou qualquer outro regime totalitário. Pois é esse o tema debatido no filme: como seria fácil influenciar pessoas a aderirem facilmente a um regime total onde sua segurança está na mão da coletividade. O professor iria dar um curso de férias tratando dos regimes totalitários, como a turma começa reagindo mal ele decide por explorar de forma prática adotando os métodos desses regimes como experiência de sala de aula e incrivelmente os alunos aderem e daí as consequências vão se revelando mais intensas do que as esperadas pelo mestre a princípio.

Depois de assistir fui buscar mais informações sobre ele na internet e vi que se tratava de uma experiência real passada na Califórnia, mas transportada para a Alemanha na tela do cinema. Um professor norte americano, me escapa o nome dele agora, usou uma turma para provar ser possível resgatar regimes como nazismo, comunismo, facismo, através de simples mecanismos. Até hoje o danado do professor não pode mais lecionar, porque simplesmente provou a fragilidade do homem em discernir a gravidade de seus atos.


Recomendo assistir o filme, no áudio original de preferência, e depois baixar a trilha sonora para ouvir, tenho aqui a OST do filme e vale muito a pena, rock’n’roll da mais alta qualidade e um filme, visualmente e ideologicamente, do mais alto naipe.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Cem Anos de Solidão

Você conhece Gabriel García Marques? Se sim, parabéns, é muito boa a literatura desse cabra. Trago hoje os Cem Anos de Solidão escrito por ele. Um livro fantástico, tanto na qualidade quando na narrativa, pois a história beira o absurdo em diversos momentos, em outros ultrapassa esses limites. Ele narra a história de uma família, de seu princípio ao seu fim e de como ela estava intrinsecamente ligada à história da cidade de Macondo, cenário onde se passa toda a trama. Teremos um Coronel Buendia, com todo seu existencialismo e seus filhos espalhados pelos quatro cantos do mundo, a velha matriarca da família que ninguém sabia exatamente a idade dela quando morreu. Teremos todo o amor do mundo, todo o ódio e todas as sensações capazes de mover os homens e mulheres soltos pelo mundo. Esse livro me prendeu do começo ao fim, é uma narrativa louca e apaixonante, vertiginosa, faz você torcer, se surpreender, amar, odiar. Poucos livros são capazes de provocar tanto, mas esse te leva a pensar muito sobre a solidão, sobre como construímos nossa história, quais nossas reais capacidades e até onde podemos ir para realizar nossos desejos.
O escritor ainda é vivo, mas não publica mais nada, até onde sei não há livro recente dele, pelo menos nos último cinco anos. Houve uma coletânea de discursos dele, mas acredito não contar como livro mesmo.

Se procura algo realmente bom para ler, onde o eixo narrativo seja a paixão que move uma família e todos os sentimentos motores do coração humano pegue este livro e vá fundo. Mergulhe na cidade de Macondo, seus tipos, sua história, sua vida. Conheça os Buendia como se fosse um parente seu, como se fosse você.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A Culpa é Sua

De quem é a culpa pelo mundo estar como está? A culpa é sua. Sem isenção, sem meias verdades, sem desculpas. Se sua vida é assim, meia, incompleta, quase vida então a culpa é sua. Não adianta reclamar. Faça, aconteça, realize. Não há na vida segunda chance, retorno, alguém que lhe dê a mão para cometer o mesmo erro novamente. A vida é sem volta. Quer ser famoso? Pague o preço por isso. Quer ganhar um salário alto, assuma as imensas obrigações advindas desses rendimentos. Não há grande realização sem grande peso. Então se você não está onde quer, a culpa é sua, ninguém é responsável pela sua derrota além de você. Nem pela sua vitória, não há ajuda isenta de interesse, livre de pedidos de pagamento. Toda ação gera uma dívida, todo pedido de socorro gera um débito a ser pago como favor. Desconheço ser humano sem interesses. Esse é o nosso sistema, essa é nossa realidade. Até entre os amigos, familiares, sempre há algo pelo qual pagar, sempre haverá algo pendente.

Se você está parado no tempo, na vida, longe de sua imagem de vida perfeita é porque você não se dispôs a pagar o preço.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Beetlejuice e a cena independente

Foto: Marcelo Soares

Meu post de hoje sobre banda na verdade é sobre a que participo chamada Beetlejuice. Conseguimos chegar na final do Pré-AMP 2014, que se realizará dia 23 desse mês. É domingo. Esse festival é uma espécie de termômetro da cena independente de Recife e conseguimos chegar na final através do voto popular, algo que muito nos agrada, pois o povo escolhe aquilo que gosta. Parece que nosso rock’n’roll está conquistando o público roqueiro, e quem vai para um show nosso sente que há motivos muito fortes para isso. Estamos muito felizes por termos chegado até este ponto, de conseguir uma vaga na final valendo, como prêmio, tocar no fodástico carnaval de Recife, no Festival de Inverno de Garanhuns e ainda por cima gravar um CD num estúdio profissional com auxílio de produtor musical e tudo.

Estamos há oito anos na cena independente da cidade, com dois EPs na rua, e muitos shows nas costas, tocamos onde você puder imaginar para divulgar nosso som. O único cachê que rolou até hoje, em dinheiro, foi a venda de ingressos para o rock in rio que ganhamos através de voto popular num concurso. Tirando isso as demais ajudas foram almoço, fornecido em uma viagem para tocar em Alagoas, lá em Colônia Leopoldina através do Coletivo Ops Rock. Ganhamos também comida e bebida à vontade quando tocamos em Itamaracá, convidados nesse dia pelo Coletivo Reação Nativa. Também tivemos alguns prejuízos nessa estrada, como quando fomos convidados para um show em Itamaracá e não rolou, o produtor do evento lá sacaneou com a gente, mas isso fica para outra história. Ou quando íamos tocar no Casarão das Artes, mas desligaram o som antes e foi uma confusão arretada.

Foto: Luiz Vitorino
Circular na cena independente de Recife é uma aventura, pois tem todo tipo de gente, boas e ruins, bandas que lhe ajudam e outras lhe queimando, brothers e falsos amigos, você vai ver de tudo, mas o mais legal de tudo é o final disso: a música. Você ouve muita música, entra em contato com gente pensando música nas suas mais diversas nuances, nas mais extremas possibilidades. Vê shows totalmente fora dos padrões e se diverte. Então se puder ir aos shows das bandas independentes daqui de Recife, vá, porque é muito foda e com certeza irá esbarrar com algum show nosso.


Beetlejuice! Beetlejuice! Beetlejuice!



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Onde está a Educação?

Vemos o governo de Dilma estar com uma aprovação fantástica, boa parte da população está satisfeita com ela, não consigo entender exatamente o motivo, os índices de corrupção no país ainda estão semelhantes ao do tempo de Collor, agora com maior descaramento, Genoíno na Comissão de Justiça mesmo após ser condenado pelo mensalão, colocaram um palhaço na Comissão de Direitos Humanos para esquecermos das outras comissões com maior peso nas decisões políticas. Vejo também a inflação voltando com força total. Alguns podem argumentar o aumento do número de empregos formais, com carteira assinada, mas a maioria das pessoas estão ganhando apenas um salário mínimo e só. A educação não melhorou muito, vejo os índices apontando um maior número de universitários, construção de novas escolas, ampliação das verbas destinadas para as universidades federais e cursos técnicos de instituições públicas, mas frequentando os edifícios desses entes educacionais vejo um imenso sucateamento. A universidade federal daqui está sucateada, o melhor setor é o de informática e tecnologia, porque há um aporte de verbas privadas, os demais setores do campus estão jogados às baratas, onde estão as verbas destinadas? Não vejo. No ensino fundamental e médio as escolas sofrem bastante, tanto em sua estrutura física quanto humana, os alunos depredam o espaço de estudo e os professores dão aula assustados, pois não há segurança nem apoio da Secretaria de Educação, as comunidades do entorno das escolas geralmente são ambientes violentos e esse sentimento é generalizado. Portanto, onde está toda essa verba que o governo federal diz destinar para a ampliação da educação? É incrível o número de universitários que não sabem redigir uma redação sem cometer erros básicos de ortografia e gramática, é gritante a falta de capacidade de interpretar um texto básico, ou a preguiça de ler afetando a maioria de nossos estudantes. Se o governo quer apresentar apenas números ele consegue, mas são números muito distantes da realidade. Ampliou o acesso, mas reduziu a qualidade.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Filme da Semana - Elvis & Anabelle

Acredito não ter dito anteriormente, mas romance definitivamente não é meu gênero de filme favorito, gosto muito daqueles filmes paradões, com uma história se desenvolvendo em roteiros bem amarrados, mas tive que me render para esse aqui, me interessei vendo o trailer dele em um filme que gosto, mas não lembro agora qual filme. No trailer você via um cara responsável por fazer o trabalho de maquiar os mortos e uma garota como modelo miss alguma coisa com uma paixão improvável nascendo daí. Beleza, é um mote bem batido, mas como gosto das coisas mórbidas me atrevi a assistir esse romance. O primeiro personagem a ser apresentado é Elvis, ele é filho único de um pai viúvo, o fato da morte da mãe dele debilitou bastante a saúde mental de seu pai restando a Elvis assumir o negócio da família, maquiar os mortos e deixá-los com rubor de saúde para o funeral. Parece ser um costume nos Estado Unidos fazer isso pois já vi em outros filmes. Anabelle é uma modelo que vem de uma série de vitórias nos concursos locais de miss, fica evidente ser o sonho da mãe dela esse futuro de modelo ao lado de figurões da política e do mundo da Vaidade. Os fatos que unem os dois são: a cidade onde moram é a mesma e um súbito ataque cardíaco de Anabelle em um concurso muito importante, ela é dada como morta e Elvis é contratado para fazer o trabalho mortuário. Porém ela não morreu. O filme não é espírita, se fosse ela teria um caso do além para o aquém. Até aí o roteiro é previsível, mas a forma como o romance acontece durante o resto do filme, a qualidade dos diálogos e as interpretações dos atores fazem a experiência de assistir valer. É um romance com diálogos nada gratuitos, as relações familiares são evidenciadas mostrando a importância delas nas escolhas dos sujeitos. Como romance me surpreendeu, pois não faz parte desses clichês de comédia romântica da coisa impossível, o roteiro é montado de forma a relação dos dois parecer plausível e os valores aplicados na construção dos sentimentos entre os personagens é algo raro de se encontrar nos filmes ditos românticos atualmente. Recomendo para pessoas que não gostam de romances abestalhados.



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Neuromancer - Ficção de origem

Paixão pela ficção científica é facilmente explicável. Como não se encantar com a possibilidade de criações capazes de substituir membros, tornar um ser humano capaz de falar qualquer idioma, ou pilotar qualquer equipamento, como não desejar a possibilidade de teletransportar-se para qualquer lugar do universo? Tais sonhos, possíveis, me fazem ler as produções dessa área da literatura. Existem diversos autores de gabarito, tanto pela linguagem utilizada, quanto pela sua capacidade visionária em perceber o germe daquilo que hoje é nossa rotina. Neuromancer é o livro que traz o conceito de Matrix como o conhecemos hoje, a ideia de uma realidade não-física capaz de afetar o mundo concreto, algo como a internet. Nesse livro você verá implantes cibernéticos, conexões neurais direto na pele.  Modificações capazes de deixar os mais hardcores fãs de body modification no chinelo. Esse livro se passa num futuro hipertecnológico, cyber absurdo, com a trama oscilando entre o noir e o cyberpunk. Não é de se espantar que a trilogia Matrix é inspirada na trilogia de William Gisbon. O primeiro livro é esse citado aqui, depois vêm Count Zero e Mona Lisa Overdrive fechando o pacote da trilogia do Sprawl. Os personagens centro da trama em cada livro são diferentes uns dos outros, mas interconectados, como a realidade virtual que os cerca. Toda a trama gira em torno disso, como as duas realidades se afetam e até que ponto a tecnologia é capaz de interferir nas relações humanas. Foi um livro escrito em 1984 onde já nos encaminhávamos para o surgimento da internet e daquilo tudo advindo dela.
Recomendo como leitura por esses dois principais motivos: é um dos principais indicadores do pensamento originário da web e coloca nosso pensamento na linha do grande conflito do mundo contemporâneo: homem x máquinas. Faz-nos pensar se a relação realmente é de versus ou de cooperação.
Se forem adquirir comprem a edição da Aleph que fez recentemente um ótimo trabalho de tradução e edição, os livros são muito bem acabados e confortáveis para a vista.
es, como o próprio Michelangelo dizia, como Da Vinci comprovou em seus diversos estudos de anatomia. Todos os grandes artistas, quando falo de grande é gente responsável por captar o espírito das épocas, são intensos pesquisadores da natureza humana, do mundo, da “alma”, da realidade. Então se você ainda acredita em inspiração é por estar no primeiro estágio da iniciação artística, pois ao passar dessa visão romântica e infantil perceberá que apenas após um árduo trabalho de entrega, pesquisa, aprendizado, conhecimento e dedicação será capaz de realizar arte. Mas não acredito em arte também como pregam por aí, mas isso é papo para outro artigo.



quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sopro Divino

Pietá - Michelangelo
A inspiração pressupõe algo divino na criação da obra de arte. Inspirar vem da ideia do sopro criador que entra, por isso inspiramos. Colocamos para dentro algo superior, algo divino, algo maior que todos nós, e a expiração é a arte, seja ela em forma de música, pintura, quadrinhos, teatro, dança, etc. É verdade isso? Será mesmo verdade? Bem, para quem acredita em inspiração sim, pois desde os gregos a inspiração tem essa conotação divina. Mas um bocado de mal informado e sem leitura histórica chama de inspiração aquele estalo, também chamado de insight, responsável por nos fazer ver o germe de uma obra de arte. Não acredito em inspiração, acredito no resultado de um processo longo de internalização, de construção de uma imagem, de um som, de uma ideia. O artista é basicamente aquele ser capaz de pegar todos os estímulos ao seu redor e transformá-los em algo novo dentro de uma linguagem (música, literatura, pintura, etc..) eleita por ele para se expressar. Portanto ele não tem inspiração, ele consegue é misturar tudo dentro de sua cabeça. Algumas misturas levam tempo para atingirem o ponto máximo, o melhor ponto de torra, como um bom café, mas outras são bem rápidas. O momento onde ocorre a inspiração, o estalo, é quando todos os ingredientes do bolo chegam a homogeneidade e ficam prontos para consumo, uso, degustação. Acreditar que uma força exterior do nada vem trazer a obra pronta é jogar muito com o acaso, e não há acaso capaz de me convencer que os grandes trabalhos de arte são fruto de nenhum estudo, de nenhuma capacidade técnica, mas apenas resultado de um lance de sorte. Atribuir à sorte resultados tão plenos quanto o riff de Voodo Child, ou as harmonias foderosas de Morphine ou Deftones é menosprezar o trabalho, e dedicação, de músicos altamente capacitados que se dedicaram muitas e muitas horas para colocar em registros sonoros aquelas melodias existentes dentro de suas cabeças. Portanto inspiração não existe, pois alguém que consegue perceber o momento exato de construir uma obra artística é aquele diariamente disposto a ver, ouvir, estudar e criar. Nenhum artista se faz do dia para a noite, nenhuma obra nasce pronta, ela primeiro passa por diversos ajustes, lapidações, como o próprio Michelangelo dizia, como Da Vinci comprovou em seus diversos estudos de anatomia. Todos os grandes artistas, quando falo de grande é gente responsável por captar o espírito das épocas, são intensos pesquisadores da natureza humana, do mundo, da “alma”, da realidade. Então se você ainda acredita em inspiração é por estar no primeiro estágio da iniciação artística, pois ao passar dessa visão romântica e infantil perceberá que apenas após um árduo trabalho de entrega, pesquisa, aprendizado, conhecimento e dedicação será capaz de realizar arte. Mas não acredito em arte também como pregam por aí, mas isso é papo para outro artigo.



terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Vida de banda

Participei de três bandas até hoje, a última foi, e é, a mais importante, por diversos motivos. Estamos agora retomando as atividades depois de um ano separados, por outros motivos também. Para quem quiser começar uma banda saiba que é um trabalho do cacete, se você pensa apenas em subir no palco e ver as pessoas gritando seu nome, ou de sua banda, pode parar de ilusão, não é assim tão simples. Primeiramente deve dedicar-se a aprender a tocar bem seu instrumento, para tirar dele o som que está dentro de sua cabeça. Acertar-se com seu equipamento de trabalho é fundamental. Trabalho? Sim parceiro, muito, sem parar. Depois de conseguir aprender a tocar bem, desenvolver sua técnica e capacidade, deverá se preocupar em achar os membros de sua empreitada. Devem estar na mesma intenção, na mesma sintonia, rolar aquela química, amizade mesmo. Rock é isso, uma amizade forte entre os membros da banda, conviver com as diferenças, discutir, farrar juntos, ouvir sons juntos e admirar essas coisas da músicas com pessoas semelhantes. Depois de encontrar os membros, aprender a tocar bem vem a parte mais difícil, organizar a vida da banda, nome, cartazes, marca, auto gestão dessa nova pessoa, fazer ela caminhar. Arranjar os contatos certos na área, se antenar com o cenário de sua cidade, o que acontece.
Quando a Beetlejuice acabou estávamos entrando na melhor de nossas fases, era o processo de divulgação do 2º EP, o Mais Uma Dose, todo mês tocávamos em algum lugar diferente, tínhamos vencido uma seletiva para tocar fora do Estado. Nos apresentamos duas vezes na Paraíba e uma em Alagoas, fizemos o melhor show da noite no Esporte do Mangue e íamos voltar para uma segunda apresentação em Alagoas, mas encerramos nossas atividades antes. Agora retomamos, com mais gás, mais maturidade, mais vontade de fazer certo dessa vez.
É difícil parceiro, mas é um prazer sem tamanho subir no palco e fazer o som, fazer a música, sentir as pessoas vibrarem com você.



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Olha pra mim!

Cá estou eu senhor, sentado neste banco de praça esperando somente a hora de tu vir me buscar, pois meu peito está muito lento, sinto o coração fraquejando. É essa a hora não é senhor? Espero ter feito direitinho meu papel durante toda a vida. Pelas minhas lembranças dei esmola, tentei de todas as formas não ser injusto com ninguém, se fiz julgamentos precipitados errando minha decisão sobre alguém, me perdoe, pois não sou como o senhor que tudo sabe. Dei alimento a quem precisava, colaborei em ONGs e associações sem fins lucrativos, paguei meus impostos em dia para não dever aos homens também. Sempre fui à igreja senhor, nunca faltei nenhum dia, chegava atrasado, mas não deixava de ir. Sabe como sempre fui temente a sua palavra e a seus ensinamentos, segui tudo aquilo escrito em seu livro sagrado. Então senhor, quando vier me levar, se for nesta tarde, que não doa, pois dor no momento da libertação deve ser a pior última sensação.
Orando dessa forma o homem foi acalmando seu coração, suas veias de oitenta anos pararam de receber o sangue, já não bombeava mais nada o órgão. Faleceu sem dor, como pedido.
Fonte: http://olhares.uol.com.br/velho-sentado-num-banco-no-jardim-foto5220040.html
Crédito da imagem: Rui Correia

Abriu os olhos. Havia muita luz a sua volta, tudo era muito branco, cobriu a face com o antebraço tentando ver melhor com a sombra proporcionada.
Senhor? Ansiava o velho, está aí senhor? Obrigado por me trazer para seu lado, passar minha eternidade.
Quem disse que passará a eternidade a meu lado? Ecoou uma estrondosa e distante voz metálica, por acaso tentou comprar aqui sua entrada com aquela última ladainha seu velho desgraçado?
Mas senhor, não entendo por que dizes isso comigo, sempre fui tão fiel a tudo.
Fiel a tudo? Tua esposa? Quantas doenças não passaste para ela? E teus filhos? Condições miseráveis os deixaste. Se não me engano, velho filho da puta, não havia ninguém a seu lado na hora de sua morte, nem visitas recebias mais naquele pedaço de parede que chamavas de casa. Ainda queres me enganar dizendo ser um bom homem?
Mas senhor, não tenho culpa dessas coisas, minha esposa era uma adúltera também, com quantos homens ela não deitou? Será que não fui eu senhor quem contraiu aquelas doenças passando para minhas amantes? Vê senhor, eram meus filhos? Não se fazia DNA no meu tempo, como poderei amar criaturas que nem sei se são meus?
Isso não justifica, repetia a voz mais estridente ainda, mais alta, mais metálica, próximo de uma guitarra, você foi um miserável toda a sua vida e não alcançará redenção aqui ao meu lado. Vá e pague o que deves no inferno, se lá compreenderes o mal que fizeste irei repensar teu caso.
Um imenso tubo anelado de metal polido, brilhante, surgiu do alto sugando o velho, levando sua carne, sangue e ossos, tragando toda a alma do ancião para um lugar distante. A última visão do homem, antes de sumir dentro daquele tubo, foram imensas caixas de som com milhares de luzes equilibradas em pedestais. Não entendeu nada daquilo.

As luzes se apagaram, ficando apenas um ponto claro ao fundo de tudo. Dois homens sentados conversavam: Você acha que ele engoliu a conversa com deus? – Não sei, mas está cada dia mais difícil enganar, lembra daquele último que mesmo correndo o risco da cegueira descobriu os olhos e viu essa parafernália toda? Porra, quase não dava pra conter ele, ficou histérico o desgraçado. – Ah, mas também vê o que ele ouve na terra, quantas religiões não tem por lá? Quem iria acreditar que depois da morte a gente traz para o hiperespaço a consciência existente dentro deles? Nunca iriam acreditar na inexistência da alma, seria impossível depois de tantos séculos de crendices e sem tecnologia igual a nossa. – Mas aquele cara alertou a eles, escreveu até um livro dizendo que os deuses erámos nós! As visitas de nossas naves nos céus da terra, não é o suficiente para acreditarem? – Eles ainda não alcançaram nosso grau de conhecimento, enquanto não chegar esse dia teremos que continuar a usar essas luzes fortes, esse sistema de som e tudo o mais necessário para encaixar cada descrição de deus com cada religião que existe lá embaixo. – A gente podia usar um sistema de hologramas e leitura de mentes para deixar mais aproximado ainda do conceito de cada figura que aparece. – A gente senta com os outros encarregados de recepção de consciência depois do expediente de hoje e decide. – Ah, depois do expediente um cacete, hoje eu vou sair com Ahoisahjoidhasoidaa, não tem condições de reunião, deixa pra outro dia. – Cabra bom hein! Conseguiu levar ela. – Mulher é mulher, não dá pra ficar sem né?



sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Filme da Semana - A Lenda dos Guardiões – As Corujas de Ga’hoole

É uma animação de alta qualidade, não apenas pelo visual, que é muito bem colorido e elaborado, mas pela forma como a história é tratada. Sou muito chegado em animações, tanto as orientais quanto as do ocidente, mas as daqui ficam a dever muito, uma ou outra sobressai tanto no aspecto técnico quanto na forma de contar a história. A produtora do filme é a Warner Bros., uma das que mais gosto dentre as grandes. O mote para o desenrolar da trama é bem simples, um jovem sonhador cresceu ouvindo as histórias do pai sobre os Guardiões do povo das corujas, sempre levou essas lendas muito a sério, acreditando fielmente no bem e no mal, escolhendo o primeiro como caminho a seguir. Num determinado momento surgem os vilões sequestrando diversas corujas jovens para um propósito obscuro, o protagonista se mete em uma jornada em busca dos Guardiões por perceber que o grande vilão das lendas havia voltado e portanto o herói seria novamente necessário para o extermínio desse mal. Essa é a base sobre a qual são construídas as relações dos diversos integrantes dessa aventura, além das corujas temos uma serpente e outros bichos que aparecem, hora para atrapalhar hora para ajudar o grupo. O legal dessa aventura toda é o critério de honra, de amizade, de verdade e honestidade dentro das relações, também aparecem traições, malícia e muita sinceridade, com uma pegada sombria porém épica. Certos momentos do filme você tem a sensação de já ter visto a cena em outro lugar, e isso é verdade, clássicos da grande indústria cinematográfica utilizadas no intuito de dar maior profundidade à trama. O diretor consegue. Não utiliza da violência de forma gratuita e nem de sensualidade tirando o apelo típico de filmes nessa linha. Não é um romance que guia a trama, mas a noção de família e comunidade, não temos aqui um mocinho salvando a mocinha, temos um herói salvando seu povo. Coisas menos egoístas como essa deveriam ser mais expostas e estimuladas ao invés desse monte de filmes infantis levando aos pequenos desde cedo procurar ser o melhor sozinho, único, herói salvador, longe do senso de grupo, apenas em busca da princesa e do tesouro.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eventos do Fim de Semana

Boa noite vaidosos, abaixo estão dois cartazes de eventos que acontecerão nesse fim de semana. Um em São Lourenço da Mata e o outro em Camaragibe. Compareçam e fortaleçam a cena rock de sua cidade, consequentemente de seu estado.


Gantz

Ainda não havia falado aqui da minha paixão pelos quadrinhos. Ou falei? Creio não ter comentado sobre nenhum. Mas vamos começar com um mangá. Pode criticar que mangá não é quadrinho. É o que então? Muda só a fonte, mas o básico, contar uma história com desenhos sequenciais em um revista, é história em quadrinho.
Trouxe para vocês hoje Gantz, um mangá de uns anos atrás, coisa fina. Quando comecei a ler pensei ser apenas uma história de ação com um fundo moral e tal e tal. Mas começou a ficar melhor quando a ficção científica ficou mais densa, os argumentos mais trabalhados e a pancadaria foi aliada a explicações muito loucas sobre tecnologia de ponta e fontes extraterrenas de informação. O traço é um espetáculo, muito preto, muitos detalhes, precisão nos cenários, fidelidade aos personagens. Não é a toa que li do começo ao fim em uma semana. Pode até pensar ser um desocupado sem obrigações, mas é impossível desprender os olhos da revista antes de chegar ao fim da história. A exuberância do traço, os textos precisos e o sci-fi mais e mais pesado.
Os problemas da história, como não poderiam deixar de ser, são o lado meloso do romance do protagonista e algumas forçadas de barra para manter a personagem principal viva. São os dois pontos gritantes das falhas no roteiro, mas aqui e ali há pontas soltas, lendo você vê que certas “coincidências” e “fatos aleatórios” ajudam a trama a caminhar de forma “predestinada” e isso em certos momentos cria um complexo de deus que tira um pouco da graça do mangá, mas nada capaz de atrapalhar o interesse em continuar a vontade de ler.
Sobre o mote da história é o seguinte: um colegial japonês, como não poderia deixar de ser, se envolve na tentativa de salvar um mendigo bêbado dos trilhos do trem, algo que dá muito errado e nosso herói acaba morto. Porém ele não morre definitivamente, acorda em uma sala com uma esfera negra no centro e tem a missão de matar um alienígena para poder continuar vivo. Isso ocorre noite após noite, a medida que ele retorna para essa sala, e conhece outras pessoas, mais detalhes sobre essa esfera, e sala, são revelados.

Se tiver interesse em ler existem diversas fontes na web para esse mangá. Não posto aqui um link para download de tudo, pois ainda estou organizando o banco de dados da Vaidade. 



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Como ser romântico?

Playing Bass - PEPEi
Estou querendo escrever uma música de amor, mas não aqueles amores assexuados de música mela cueca, nem aqueles amores só putaria de novinha e forró safado. Tem o amor gaia de Reginaldo Rossi e muitos outros bregas, tem o amor solidão, desejo não realizado, da mulher que é feliz com o outro e o cara diz ainda assim ser feliz por ver ela bem com outra pessoa, a vá! É tanto clichê imbecil de “música romântica” que não sei qual caminho tomar na hora de escrever a letra, por isso ainda não comecei a escrever, tenho toda a ideia de como será a temática para trabalhar, mas me faltam as palavras e a forma dos versos para colocar. Na minha cabeça o amor tem aquele carinho, o cuidado com a pessoa amada, o desejo de permanência e continuidade típicos do amor, mas também tem o desejo sexual, o tesão, a vontade de foder a pessoa, com a pessoa, na pessoa. Então, não são formas incompatíveis, são necessárias à existência do amor entre duas pessoas, não é só aquela coisa bonita e afrescalhada de palavras doces e dedicação, mas também não é só derrubar paredes, quebrar camas e uivar como animais no cio, é a mistura muito bem dosada dessas duas faces com milhões de outras coisas, fracas e fortes, sensíveis e brutas, leves e pesadas.





terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O Vaidoso entrevista: Piloto Automático


Domingão a tarde lá no bar A Sede, na Rua Tomazina, Bairro do Recife, entrevistei a banda Piloto Automático, abaixo segue no que deu nosso papo.
Se preferir ouvir ao invés de ler dá o play macaco:



1 – Boa tarde galera da Piloto Automático, vocês são a terceira banda que passa por aqui pelo Vaidade e gostaria de saber o porque do nome de vocês. É algo que pergunto a todo mundo, pois o nome geralmente está ligado a identidade da banda.

Tomáz: A história desse nome é um pouquinho complicada, tem uma história bem engraçada assim. Antes de ter um nome a gente já era uma banda, a gente não montou a banda já pensando num nome não, a gente tava tocando há um tempo e aí rolou o primeiro show. Aí chegaram pra gente “E aí pô, qual é o nome da banda de vocês?”, a gente “Porra...” nem tinha nome ainda aí Pedro, o baterista, chegou “Não, é Piloto Automático”, saiu na hora tá ligado? “Agente porra véi, Piloto Automático”, aí até hoje ficou o nome.

2 – Vocês estão no trabalho de divulgação do 1º EP, como é fazer isso na cena independente pernambucana?

Rangel: Bicho é complicado, é tipo você lutar numa guerra sabendo que nunca vai vencer, mas você luta. A gente faz o que pode, a gente usa a internet, usa outros meios de tecnologia, temos nosso próprio website, fazemos a divulgação através de amigos. Imprimimos, conseguimos fazer as cópias dos CDs, CD físico, distribuímos da melhor forma possível. Desse jeito que rola. No boca a boca também, falando com os amigos e tal, etc.

Tomáz: Tentamos fazer todos os materiais da melhor forma possível, assim, tentando do melhor nível que a gente pode, dentro de nossa capacidade e nosso orçamento financeiro.



3 – Vocês tem influência do stoner, mas percebo outras linhas de rock ali no som de vocês. Quais são as principais influências da banda?

Tomáz: As influências da gente são muitas, desde Luiz Gonzaga, do baião, até do stoner, do Queens (of the Stone Age), do Kyuss e várias outras bandas, até do Pixies também que já é uma outra linha.

Rangel: A gente tem assim além das bandas da Califórnia, do stoner californiano, do Kyuss, Brant Bjork, Queens of the Stone Age, a gente tem influências de rock alternativo norte-americano tipo Sonic Youth, Pixies e de rock clássico também, Black Sabath, Led Zeppelin. Apesar dessas influências algumas delas não estarem tão claras assim no som da banda a gente tem uma forte influência. De bandas nacionais a gente tem como influência acho que um pouco de Nação Zumbi, que também não tá tão claro no som da gente. Zephirina Bomba, que é uma banda punk de João Pessoa e punk rock old school, tipo Black Flag, Bad Brains, coisas desse tipo, Melvins, banda importante do rock alternativo de Seattle.

Tomáz: Assim, o que a gente pensa é que as músicas da gente são bem abrangentes, tipo não pode estar influenciando, pode não estar tão claro agora, mas nas músicas que estão vindo já pode estar mostrando mais, tá ligado? E assim vai.

4 – Quem vê um show de vocês vê muito experimentalismo no palco, com umas guitarras bem pesadas. Quais são os elementos, ideias e timbres, que vocês buscam mostrar para o público?

Tomáz: Bicho a gente tenta mostrar o que vem na cabeça, assim, as vezes a gente escuta uma coisa legal de uma banda, as vezes a gente tá tomando uma e vê o céu azul, acha aquele céu legal e tenta retratar isso tá ligado? Não é uma coisa que tá ligada só na música, assim, a gente tenta retratar o dia-a-dia da gente. Tudo.

Rangel: E também vem da vontade da gente de tirar um som experimental no sentido de diversificar o som da banda, não só ficar aquela coisa limitada ao stoner, às guitarras em tom mais grave. Assim, o máximo que a gente puder fazer para diversificar o som tá valendo.



5 – Gostei bastante da música de trabalho Estrada Deserta, ela foi feita para alguém em especial ou para alguma situação vivida?

Rangel: Bem, muitas pessoas pensam que essa música é pra alguém, pra alguma mina, pra alguém. Não. Na verdade eu vou entregar aqui o grande segredo dessa música, pelo menos uma parte dele. Essa música foi influenciada por um filme, chamado Corrida Contra o Destino, é um road movie, é um filme que foi feita a primeira montagem nos anos 70, 1971, e tem um remake de 97, o nome dele original em inglês é Vanish Point. Narra a história de um ex-policial, que é ex-guerrilheiro do Vietnã, ex-piloto de corrida, que ele depois que é expulso da polícia ele assume um emprego de entregador de carros, ele transporta, ele sai cortando as highways norte-americanas pra entregar os carros. Só que um belo dia ele faz uma aposta de levar um carro, qual é o carro? Acho que é um Dodge 70 do Colorado a São Francisco em um dia, só que um certo, determinado, momento da estrada ele ultrapassa o limite de velocidade e começa a ser perseguido pela polícia rodoviária americana aí começa a se desenrolar a história. No filme acontecem várias coisas, cenas de ação, de perseguição, de romance e a trilha sonora é bem rock’n’roll. Aí assim, na verdade a ideia de Estrada Deserta foi a de colocar, fazer, uma letra meio obscura com umas coisas misteriosas numa canção meio pop, com a melodia pop, na verdade a tentativa da música é essa. E tem umas coisas misteriosas ali que só quem escuta vai ter que desvendar por si só.

6 – Há bastante entrosamento no palco, no cd, entre vocês, fica claro isso quando a gente assiste o show. Há quanto tempo já rola essa história chamada Piloto Automático e qual a maior realização como banda?

Tomáz: A gente tá junto desde 2007, como power trio, e a partir de 2008 com Zurk(Rangel), o guitarrista, o outro guitarrista, como quarteto, foi a melhor adição que a gente podia ter feito e bicho acho que a maior coisa que a gente fez na banda foi lançar o EP, porque atualmente isso é uma coisa difícil, que a gente passou por todas as etapas e sabe que pra conseguir é ralação. Porque a gente lançou o EP assim, do jeitinho que a gente queria, exatamente do jeito que a gente queria, prensado, aí realmente foi uma ralação forte. Lançou o clipe também, tudo no faça você mesmo tá ligado? Tudo foi a gente que fez, desde a arte do CD até o clipe. Tudo no clipe foi a gente que fez, tudo no CD, tudo, tudo, tudo.

Rangel: Também assim, pessoalmente, minha maior realização é tocar com esses caras. Com Alfredo, com Tomaz e com Pedro, assim, eu tô disposto a tocar com eles em qualquer lugar, qualquer palco, qualquer local, contanto que o som esteja bom e a gente consiga transmitir a mensagem da gente, aí tá valendo.



7 – Ao vivo vejo muito material que não entrou no EP, são composições que vem surgindo no decorrer dos shows e existe alguma previsão para gravar esse material?

Rangel: Bem, as composições surgiram em meio a um ensaio e outro. As vezes cada um faz uma parte em casa, chega com a demo, mostra no estúdio, aí os outros completam. É mais assim, a gente tenta sempre deixar bem claro nos shows assim, passar honestidade das músicas da banda. Basicamente é isso.

Tomáz: Uma coisa que foi legal assim na banda da gente é que a gente pensa música vinte e quatro horas por dia, sempre pensando na banda. Às vezes eu tô na faculdade e tô pensando na banda, tipo pô eu acho que ficaria massa uma música assim, tanto Rangel, quanto Alfredo, quanto Pedro. Pedro as vezes tá conversando com a gente, tá batucando, sempre pensando em alguma música nova, sendo que o que impede muito, as vezes, é a oportunidade de gravar mesmo. Porque assim, música a gente produz até muitas, sendo que nem sempre a gente tem o tempo nem a oportunidade de conseguir gravar todas, aí por isso a gente se planeja bem pra conseguir dar andamento a banda, porque não pode parar, tem que continuar gravando, lançando coisas.

8 – Agora a pergunta final que faço a todo mundo que entrevisto: qual o conselho para quem quer montar uma banda e tentar a vida no meio musical?

Rangel: Primeiro você tem que encontrar os caras que tem a mesma afinidade musical que você. Segundo: você não precisa ser perfeito, não precisa ser músico formado, mas assim, você tem que ensaiar bastante pra quando você tocar ao vivo as pessoas verem que você é bom, que você toca com paixão, é isso que vai fazer as pessoas prestarem atenção em você. Na verdade o conselho que eu dou é esse e sempre ser fiel e honesto ao som que você quer fazer, nunca ir na onda de modismos, de nada. Faça você mesmo.


Tomáz: Exatamente, acho que assim. Tudo o que Rangel falou foi perfeito e correr atrás bicho, ter perseverança, ter vontade mesmo, porque muitas vezes a pessoa desanima. Agora se você gostar do que você faz não desanime não. Corra atrás, faça, tipo, muitas coisas que a gente fez pra banda a gente não sabia fazer. Fazer um clipe, fazer site, mas a gente aprendeu, correu atrás, aprendeu pra conseguir fazer. Muita coisa se a gente não corresse atrás não faria, sendo que a gente correu atrás e fez. Então é isso, é vontade de fazer o que gosta. Porque fazendo o que gosta, você tem motivação pra conseguir fazer o resto.

Se quiserem saber mais sobre a banda acessem o site deles. Abaixo está o clipe da música Estrada Deserta para atiçar a curiosidade.